segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A afirmação do homem neste mundo

Apesar da teologia cristã ter transitado e sido influenciada pela filosofia grega durante sua história, o evangelho de Cristo ao contrário do dualismo platônico que "desvalorizava" o corpo e "valorizava" a alma eterna, e que "negava o mundo presente" em detrimento de outro mundo, o das idéias, Jesus Cristo reafirma o valor da vida humana sem negar este mundo, fazendo-se solidário e parceiro de todos. A fé cristã, como podemos constatar nos evangelhos não nega o sofrimento e problemas que enfrentamos nesta vida, mas também não promete soluções mágicas e fantasiosas que muito nos roubam a realidade e nos entorpece. Antes, abre nossos olhos e nos fortalece, convocando-nos a termos uma postura confiante e firme, sempre reafirmando a ética e a justiça diante das adversidades.

No passado os discípulos caminharam com o homem Jesus de Nazaré. E só após este caminhar - relacionamento -  puderam conhecer o rosto de Deus, seu caráter e verdadeiro amor pela criação. Somente a partir desta experiência humana os discípulos puderam compreender que o rei "não está no palácio com vestes reais e cercado de pessoas puras e santas, dando ordens aos seus subordinados", mas nas relações sinceras de amor, curando os doentes,  perdoando e acolhendo os excluídos. 


Ou seja, não precisamos sair deste mundo, deste corpo para encontrar (experienciar) Deus, isto porque ele fez o caminho inverso, veio ao nosso encontro - o sagrado pisou o profano -  contrariando aqueles que negavam e negam este mundo e esta vida. O que infelizmente percebo é que o movimento evangélico hodierno se tornou idólatra, porque fabricou um ídolo que nega toda nossa humanidade e a criação de Deus em detrimento de um outro mundo. Desenvolveram uma falsa espiritualidade, falsa santidade, e uma falsa aparência de piedade. Um ídolo desconectado com a realidade da vida e automaticamente insensível ao sofrimento humano. Um ídolo que exige templos para sua adoração e sacrifícios para poder abençoar.


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A Bíblia é inspirada por Deus

A Bíblia para nós cristãos, que ignorantemente somos rotulados de "liberais", é de fato inspirada por Deus. Mas, pergunto; inspirada em que sentido? Isso porque muitos crentes fundamentalistas, em nome de uma falsa  aparência de santidade distorcem o conceito bíblico de inspiração. 

Vejamos o que Paulo diz: Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra. 


Saber por exemplo se Adão e Eva foram personagens históricas ou não vai nos instruir em justiça? Em amor? Em boas Obras? Se a cobra falou ou não falou no Gênesis vai nos instruir em justiça? Em amor? Em boas Obras?

Vejam que o argumento de que a Bíblia é inspirada por Deus, portanto tudo que está escrito é verdade, não funciona. Não é correto fazer estes tipos de comparações e associar uma coisa a outra. Isso porque ela é inspirada não para provar os eventos em si, mas para nos instruir na justiça e no amor, para toda boa obra.

A Bíblia é um livro religioso, que possui um estilo literário. Povos antigos usavam como recursos literários para escrever suas histórias os mitos, lendas etiológicas, contos etc. Foi com estes recursos da época que Israel escreveu sua história de fé com seu Deus, usando alguns mitos e lendas da época para escrever e reescrever as verdades de Deus.

O importante na Bíblia não é atentarmos para aquilo que foi usado (métodos e recursos) pelos escritores para descrever as verdades de Deus, mas a mensagem de Deus, seu projeto de vida para a humanidade. Para isso que ela foi inspirada, para nos educar em justiça, em amor e nas boas obras.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pensando um pouquinho sobre salvação

Não podemos negar a influência grega na história Cristianismo. Muitos dos nossos conceitos cristãos são mais parecidos com os dos gregos do que com os da tradição judaico-cristã. Inclusive, muitas vezes pensamos até Deus com categorias gregas. Essa influência grega tem nos afastado do pensamento bíblico e gerando em nós certas concepções equivocadas a respeito da nossa fé e esperança. 


Um dos problemas que vejo, por exemplo, é o da salvação, que infelizmente os evangélicos pensam semelhantemente como os gregos. Ou seja, quando falam de salvação estão pensando em salvar suas almas para morar com Jesus lá no céu. Os evangélicos estão preocupados em salvar suas almas deste corpo e deste mundo. Veja que a luta de muitos evangélicos é entre alma x corpo e céu x terra. Uma concepção muito parecida com a grega. Porém, biblicamente não é assim que devemos pensar a salvação. A luta na Bíblia, em toda ela, é entre amor x pecado,  vida x morte, , e os que se dizem cristãos devem amar e lutar pela vida assim como Jesus fez e nos ensinou a fazer.

Portanto, salvação no contexto Bíblico, judaico-cristã, não é sair deste corpo e deste mundo para ir morar no céu com Jesus. Somos salvos quando tomamos consciência da vida, quando entendemos que todos nós somos criaturas de Deus, feitas à sua imagem e semelhança, enfim, quando colocamos em prática o amor que recebemos de Deus e acolhemos uns aos outros. 

O próprio Jesus disse: "Venha o teu Reino...assim na terra como no céu". Somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo, porque é aqui nesta terra, neste palco que devemos atuar como discípulos de Cristo. Por isso que a palavra salvação no contexto bíblico quer dizer; libertação, cura, livramento etc.



quarta-feira, 30 de maio de 2012

Culto a Jesus?

Alguma coisa está errada com este cristianismo de hoje. Se Jesus não pediu atos de culto porque a igreja evangélica concentra todas as suas forças em cultuar a Jesus? Minha pergunta é muito séria, e não quer dizer que eu esteja negando a divindade de Cristo e seu Senhorio. Não, não tem nada a ver. O fato é que Jesus nunca pediu para seus seguidores se reunirem para cultuá-lo, louvá-lo, assim como fazem os crentes hoje. Não instituiu nenhuma forma de culto, mesmo depois da sua morte. Ora, isso no mínimo é intrigante, não acha? Os cristãos e até os não-cristãos pensam hoje em dia que cristianismo é cultuar a Jesus. Hoje em dia somos chamados de cristãos porque cultuamos a Jesus, porém os seguidores primitivos de Jesus não eram chamados de cristãos porque cultuavam a Jesus! Até porque a palavra cristão significa "pequeno cristo".

Em Atos 11.25-26 lemos: Barnabé partiu então para Tarso, afim de buscar Saulo. Encontrou-o lá e o trouxe para Antioquia. Eles passaram um ano inteiro trabalhando juntos nesta igreja e instruindo uma multidão considerável. E foi em Antioquia que pela primeira vez os discípulos foram chamados de cristãos.

Re-lendo Atos dos apóstolos, por exemplo, claramente percebemos que o cristianismo não era um culto a Jesus Cristo. Ou seja, eles não se reuniam para cultuar Jesus. E caminhando com Jesus pelos evangelhos podemos dizer que esta também não era sua intenção, ou seja, que as pessoas se juntassem para lhe prestar atos de culto. Jesus não tinha problema de auto-estima, não era carente, mimado e narcisista.

Uma coisa interessante que Jesus pede, e com certa ênfase é que tenham fé nele. Pede que tenhamos fé nos seus ensinamentos. Também pediu que fizéssemos memória da sua morte e da sua ressurreição. E esse ato de memória não era atos de culto. Jesus queria que seus ensinamentos fossem repetidos e ensinou para que assim sucedesse. Os crentes se reuniam para ouvir as memórias de Jesus, para ouvir as pessoas contarem dele e sobre seus ensinos. E quando aqueles que tiveram contato com o Cristo estavam perto da morte, procuraram deixar por escrito suas memórias, para que sempre houvesse possibilidade de ouvir umaa palavra sobre Jesus. 

O culto a Jesus, principalmente como vemos hoje nas igrejas evangélicas, tende a afastar sempre mais da memória o verdadeiro Jesus. O culto hodierno exalta um Jesus simbólico, transformado, revestido de atributos religiosos, mas a memória de Jesus tem por objetivo a vida real de Jesus nesta terra e os seus ensinamentos. Ensinos que nos faz ser sal da terra e luz do mundo. Porque é este mundo, como costumo dizer o nosso palco de atuação.

Por isso não é estranho que pessoas muito apegadas ao culto a Jesus não conheçam as Escrituras e não se interessem por ela. Essas pessoas conhecem um Jesus feito de símbolos que satisfazem sua necessidade religiosa, sem perceber a diferença entre o ensinamento de Jesus e a psicologia religiosa. 

O fato é que a igreja hodierna precisa re-pensar o que é ser cristão, e o que é ser igreja. Porque ser cristão não é reunir-se duas ou três vezes por semana para prestar culto a Jesus num templo. Precisamos re-pensar nossas reuniões, isso porque não podemos ser como os pagãos e reduzir o Cristo de Deus num mero ídolo como outros.